Uma questão recorrente nas falas de delegadas e delegados do 10° Congresso do SINJUSC foi a intensificação das rotinas de trabalho impulsionada pela digitalização dos processos e pelas metas de produtividade. Na avaliação geral de quem participou do Congresso, o judiciário precisa de celeridade, mas isso não pode fazer com que trabalhadores(as) e juízes(as) se desumanizem e percam a dimensão do peso das decisões na vida das pessoas envolvidas.
Um dos relatos trouxe a diferença que o atendimento no balcão de uma Vara pode fazer, principalmente para a parcela mais humilde da população que, de uma maneira geral, não têm acesso a informações sobre os próprios direitos. Outro depoimento tratou de como o tempo de cumprimento de uma medida protetiva precisa ser priorizado, ainda que uma ordem de despejo também deva acontecer dentro do prazo legal.
CONGRESSO É ESPAÇO SEGURO PARA CATEGORIA
Ainda por meio das intervenções das pessoas presentes foi possível constatar que o Congresso forneceu um espaço seguro para que delegadas e delegados ficassem à vontade para tratar dos problemas mais críticos da categoria. No formato em que foi realizado, o 10° Congresso do SINJUSC incentivou as pessoas a exporem suas opiniões de maneira livre, favorecendo o debate. Clique AQUI para baixar as fotos do 10º Congresso do SINJUSC.
NOVAS DINÂMICAS PARA REFLETIR SOBRE TEMAS RECORRENTES
Uma novidade introduzida na 10ª edição do Congresso do SINJUSC foram os jogos interativos para abordar temas como, por exemplo, previdência e austeridade fiscal. A ideia é abordar os temas de interesse do Sindicato por outras formas, além do modelo tradicional em que um palestrante faz uma exposição que serve de subsídio para o debate. A partir dos Grupos de Trabalho em que os jogos foram utilizados saíram contribuições importantes para a resolução do Congresso.
RESOLUÇÃO FINAL DO CONGRESSO FOI UNÂNIME E RECEBEU 124 ASSINATURAS

As teses 2 e 3 foram absorvidas como propostas pela tese 1 que também recebeu a adição de observações encaminhadas pelos grupos de trabalho, foi aprovada de maneira unânime e deu origem à resolução final do Congresso assinada por 124 pessoas. Clique AQUI e baixe a Resolução do 10° Congresso do SINJUSC na íntegra.
POLITIZAR O CANSAÇO É REDUZIR A JORNADA DE TRABALHO
Na noite de sexta, dia 16 de maio, o economista do SINJUSC, Maurício Mulinari, explicou para a platéia do 10º Congresso do SINJUSC, que diferentemente dos ganhos monetários que são consumidos pela inflação dos períodos que se seguem, a redução da jornada de trabalho pode impactar positivamente na preservação da saúde de trabalhadoras e trabalhadores, na organização da categoria e na geração de postos de trabalho.
A fala de Maurício se conecta a da intelectual e escritora, Carla Akotirene, que explicou como as longas jornadas e a falta de dinheiro levam a classe trabalhadora a se alimentar de ultraprocessados ou das chamadas “comidas pesadas”, ricas em gordura, com graves prejuízos à saúde, um conceito conhecido como nutricídio. Akotirene denunciou ainda a segurança pública como uma tecnologia de morte que atenta contra a vida das populações desempregadas ou subempregadas e historicamente colocadas à margem pelo capitalismo como, por exemplo, negros e mulheres.
Já o professor e pesquisador, Sérgio Amadeu, desmistificou a chamada “Inteligência Artificial” explicando as limitações da utilização desse tipo de tecnologia nos processos de trabalho. Amadeu alertou para o fato dos modelos e padrões produzidos por IA não serem isentos do ponto de vista ideológico na medida em que dependem não só da arquitetura algorítmica desenvolvida pelo programador humano, mas do tipo e qualidade dos dados utilizados por esses algoritmos.
No judiciário, por exemplo, a utilização de “inteligência artificial” para fazer uma pesquisa jurisprudencial pode ser interessante, mas a elaboração de decisões, ainda que em casos semelhantes, pode ser desastrosa. Para ilustrar a questão, Amadeu mencionou as experiências com dosimetria de pena por meio de inteligência artificial nos Estados Unidos que acabaram levando a decisões racistas.
A deputada estadual Luciane Carminatti (PT) também participou do Congresso e falou sobre o número crescente de afastamentos de servidores públicos como resultado do estresse causado pelo assédio e cobranças por produtividade. Carminatti falou também da importância das mulheres assumirem o protagonismo na política a exemplo do que já acontece no SINJUSC cuja direção tem maioria de mulheres.
Foi minha primeira vez no congresso e em um evento do sindicato. Foi uma experiência enriquecedora e muito proveitosa! Gostaria que a população pudesse ter mais acesso aos temas debatidos. É muito importante que a classe trabalhadora se reconheça como tal e entenda a importância do coletivo, e da luta pela manutenção e ampliação dos nossos direitos, sempre em busca do trabalho digno.