Ato em frente ao TJSC (10/08/2023) pela pauta de reivindicações de aposentados e aposentados do judiciário catarinense.

Artigo| NAP: desafios, possibilidades e resistência para a mantença da dignidade da pessoa humana

Por Maris Tonon*

O Núcleo de Aposentados e Pensionistas (NAP), segmento/grupo/coletivo que congrega as trabalhadoras e os trabalhadores do poder judiciário do Estado de Santa Catarina aposentados e pensionistas sindicalizados e vinculados ao Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (SINJUSC), totaliza cerca de 1350 membros, numa base sindical formada por aproximadamente 4.000 pessoas/integrantes/membros.

Vale pontuar que o direito à aposentadoria no Brasil foi instituído em 1923 pela Lei Eloy Chaves, completando um século no corrente ano, e visava a proteção dos trabalhadores da iniciativa privada, após a 1ª Guerra Mundial. No que concerne ao serviço público, o direito à aposentadoria foi estabelecido no ano de 1938.

Consideramos importante destacar que o processo constitucional de 1988, deflagrado pelo movimento de redemocratização em nosso País, após a ditadura militar, inovou em definir, dentre outros avanços, a importância da seguridade social para a proteção e dignidade das pessoas e de suas respectivas famílias, constituindo-se  em um importante tripé de direitos humanos universais e civilizatórios – à saúde, à previdência social e à assistência social, consagrados nos arts. 194 e 195 da Carta Magna.

Contudo, as “reformas da previdência”, de 1998, 2003 e de 2019, aprovadas por emendas constitucionais, na contramão dos direitos defendidos pela classe trabalhadora, impactaram negativamente na proteção das pessoas e de suas famílias, causando empobrecimento e limitações de natureza alimentar.

 Em nosso Estado, em plena “pandemia de COVID”, o então governador Moisés encaminhou à Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) o projeto de “reforma da Previdência”, em julho de 2021. Os trabalhadores dos serviços públicos, demonstrando resistência, no dia da votação, foram impedidos de adentrar na “casa do Povo” e sofreram brutal violência e repressão pelas forças de segurança do estado. A “reforma da previdência” foi aprovada, no âmbito do Regime Próprio de Previdência Social, sendo essa considerada mais draconiana/nefasta que aquela implementada pelo governo federal em 2019.

Nessa avalanche de retirada de direitos e ataques aos serviços públicos, em novembro de 2021, consoante a aprovação da referida emenda constitucional, o governo estadual passou a “confiscar” 14% dos proventos das trabalhadoras e dos trabalhadores aposentados e pensionistas, com a justificativa da existência do propalado “déficit da previdência”, aumentando o valor da contribuição previdenciária e taxando nesse mesmo patamar os proventos daqueles que gozavam de isenção, por terem benefício/pensão limitados ao teto do Regime Geral da Previdência Social. 

O SINJUSC integra a resistência formada pelo Fórum Catarinense em Defesa do Serviço Público, e estratégias conjuntas foram traçadas para o enfrentamento dessa “maldade e injustiça”, provocada pelo confisco em todas as aposentadorias e em pensões previdenciárias.

Nessa direção, foi deliberado o movimento de coleta de assinaturas de eleitores catarinenses, visando a deflagração do segundo projeto de lei de iniciativa popular (PLIP), para dar ingresso na Assembleia Legislativa, visando a revogação do confisco de 14% nas aposentadorias. Os integrantes do NAP-SINJUSC tiveram participação importante nesse processo, integrando o esforço para que se conseguisse as necessárias 60 mil assinaturas, que possibilitaram o protocolo do PLIP junto à Alesc, em agosto de 2022, o qual se encontra em tramitação. 

Vale destacar que o NAP tem por objetivo principal congregar, pensar/traçar estratégias para as pautas dos aposentados e pensionistas, e para realizar tais encaminhamentos encontra-se organizado em um grupo denominado “Gestão NAP”. Esse conta com a participação de diretoras do SINJUSC, de representantes das(os) aposentadas(os), Shirlei Lucia Daltoé Berger e Valfrida de Oliveira, que compõem a direção do sindicato, além de aposentadas(os) sindicalizadas(os) convidadas(os), as(os) quais se reúnem ordinariamente na última terça-feira de cada mês, virtualmente, e, extraordinariamente, sempre que necessário.

O grupo “Gestão NAP” tem como foco implementar o projeto de aposentadoria ativa, pois entendemos que somos aposentados e não “inativos”, e, como tal, temos muito a contribuir nessa luta em prol da defesa dos nossos direitos de cidadania, considerando ser a aposentadoria um direito conquistado após anos de extrema dedicação ao serviço público e à efetivação da justiça. Entendemos esse processo como uma construção coletiva, que defendemos, diante de tantos retrocessos e ataques aos direitos constitucionais civilizatórios.

Com o arrefecimento da “pandemia de Covid” e em consonância com as deliberações sanitárias, retomamos, em agosto de 2022, presencialmente, a realização do 16º Encontro da Experiência, cujo tema “aposentadoria ativa e bem-viver” possibilitou o congraçamento de cerca de 250 aposentadas(os) e pensionistas na cidade de Gravatal-SC. Ao final do encontro, os participantes  deliberaram que o documento “Carta de Gravatal”, que continha as pautas da categoria, fosse entregue à direção do TJSC, reivindicando apoio do tribunal à causa da revogação do confisco de 14%, reposição inflacionária dos proventos dos aposentados e pensionistas sem paridade e a equiparação do auxílio médico-social ao vale-alimentação.

Concluímos que a luta e a resistência na defesa desses direitos que nos foram usurpados é urgente e contínua, pois a aposentadoria e dignidade nos possibilitam exercer um direito conquistado após superarmos tantos revezes nessa etapa de vida, extensivo aos nossos familiares e dependentes, dada a natureza de proteção social e geracional que esse instituto encerra/impõe.

Para encerrar, a famigerada e recorrente estória acerca do “déficit” da previdência não pode ser desculpa para que as trabalhadoras e os trabalhadores sejam responsabilizadas(os), pois o trato desse importante mecanismo de proteção social necessita de uma gestão transparente com efetiva participação e representação dos trabalhadores, possibilitando a efetiva fiscalização desse patrimônio da sociedade.

Referência

SOUZA, C. da P. Previdência Social: Perspectivas para um Brasil em transição demográfica. 61 f. Monografia (Bacharelado em Economia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ), 2014. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/1528/1/CPSouza.pdf. Acesso em: 14 maio 2023.

*Assistente social, sindicalizada, trabalhadora pública aposentada e integrante do grupo “Gestão NAP”. Analista Jurídica. Servidora do Poder Judiciário de Santa Catarina

PUBLICAÇÕES DA REVISTA VALENTE|

Esse artigo foi originalmente e de forma exclusiva produzida para a 8ª edição da Revista Valente. Para ler o artigo na revista ou ouvir o áudio texto, CLIQUE AQUI.

Um comentário

  1. Com esse desconto mais o aumento do imposto de renda,me foi tirado tanto que estou recebendo cesta básica de amigos pago aluguel,, estou doente, já não tenho mais dentes,,, sinto pena de mim mesmo, depois de tanto trabalhar,, isso que tenho 75 anos.So Deus na causa 🙏

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