A “uberização” das trabalhadoras e dos trabalhadores do judiciário

O avanço da produção por demanda faz com que as trabalhadoras e os trabalhadores do judiciário brasileiro ultrapassem a jornada de trabalho, exerçam funções para as quais não são remunerados, como o gerenciamento das próprias atividades, e ainda arquem com custos dos meios necessários à realização do serviço, como energia, telefone celular (aparelho e conta), computadores, impressoras, internet, tinta, água, mobiliário, espaço físico e etc.

O impacto do trabalho à distância nessa nova lógica é evidente, inclusive com repercussão negativa sobre a saúde física, mental e financeira dos profissionais, tornando urgente o debate sobre uma regulamentação da atividade que respeite os direitos consolidados da categoria. Contudo, após dois anos de pandemia e apesar da insistência do SINJUSC, o TJSC não encaminhou o pedido de criação de mesa paritária para debater o tema, o mesmo acontece em outros Tribunais estaduais do país.

A questão também faz parte da pré-pauta da Campanha Salarial 2023 do SINJUSC que será debatida na assembleia de quinta (20/04). Para se inscrever e participar presencialmente ou virtualmente basta CLICAR AQUI.

O “EXEMPLO” DOS ENTREGADORES DO IFOOD E MOTORISTAS DA UBER

“Olhar para entregadores por aplicativo e motoristas da Uber possibilita de alguma forma ver esse enigma em ato e compreender que os elementos que regem a vida destes trabalhadores estão se generalizando pelas relações de trabalho.”

A citação acima está em artigo da pós-doutora Ludmila Costhek Abílio que faz parte do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesist-Unicamp) e pesquisa o tema há mais de 10 anos. Ela e a liderança dos motoboys de São Paulo, Paulo Galo, participaram na última sexta (14/04) da terceira reunião do GT de Tecnologia, Trabalho Não Presencial e Saúde da Fenajud.

Entre outras questões, a pesquisadora falou sobre o “autogerenciamento subordinado”, que no judiciário se materializa quando as trabalhadoras ou os trabalhadores são obrigados a tomar decisões e realizar funções de chefia sem serem pagos por isso e ainda arcar com as responsabilidades de eventuais decisões “equivocadas” gerando retrabalho, alongamento da jornada e adoecimento.

“A INTERNET É A NOVA RUA”, MAS É TAMBÉM “UM ROLO COMPRESSOR”

Já Paulo Galo, denunciou a alienação dos motoboys em relação aos próprios direitos. Inserido em uma categoria composta inclusive por quem só teve experiência no mercado de trabalho através da informalidade oferecida pelos aplicativos de entrega, relatou a dificuldade de aproximar jovens da luta pelo direito à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Galo falou ainda sobre a dificuldade dos sindicalistas mais experientes em entender que é preciso utilizar a internet para mobilizar os mais jovens, ao destacar que “a internet é a nova rua”. Porém, o motoboy também considera que a rede é um “rolo compressor”, pois é efêmera, os assuntos se sucedem em uma velocidade que dificulta o aprofundamento das discussões e reproduzem a lógica individualista do capitalismo.

O debate foi mediado pela a presidenta do SINJUSC e Coordenadora de Saúde da Fenajud, Carolina Rodrigues Costa, que destacou “a necessidade da solidariedade e o reconhecimento entre trabalhadoras(es), pois as dificuldades e o desmonte de direitos atingem todas e todos, mesmo que de épocas diferentes, e para entender os processos é importante partilhar as experiências”.

Um comentário

  1. sim……..isso é reflexo da nefasta reforma trabalhista de 2017 ……ela tem q ser revista…..urgentemente……….

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