SINJUSC NAS COMARCAS mobiliza categoria em Criciúma

Editorial: “Saúde, mais do que nunca, é a nossa maior demanda”

Por Jaqueline Maccoppi*

O SINJUSC tem visitado comarcas por todo o Estado de Santa Catarina. Em cada conversa, em cada escuta, encontramos realidades diferentes, mas também um fio comum entre as falas dos colegas: a preocupação com a saúde. À primeira vista, quem acompanha essas visitas pode pensar que os temas mais urgentes dizem respeito exclusivamente a salário ou carreira — e sim, são pautas fundamentais. A remuneração digna está diretamente ligada à qualidade de vida e faz parte, inclusive, do conceito ampliado de saúde, conforme nos lembra o sanitarista Sérgio Arouca: saúde não é apenas a ausência de doença, mas também envolve trabalho digno, lazer, moradia, alimentação, educação e renda.

Foi com essa perspectiva que lutamos e conquistamos a nova tabela salarial, aprovada neste ano, garantindo aos servidores um dos melhores vencimentos entre os tribunais do Brasil. Sabemos que ainda há desafios – como a inclusão dos aposentados nesta conquista e a resolução da disfunção -, mas também é verdade que demos passos importantes.

Mesmo assim, o que mais ouvimos nas comarcas, mesmo após essa vitória salarial, é uma palavra recorrente: adoecimento. Os relatos se repetem, ganham força e mostram que algo maior está nos afetando: a saúde mental dos servidores do Judiciário está em risco.

Vivemos tempos de hiperconectividade, metas cada vez mais altas impostas pelo CNJ, e uma gestão que, há anos, está baseada na cobrança constante por números e produtividade. Isso tem gerado não apenas estresse, mas também um sentimento silencioso e devastador: a solidão no trabalho.

Estamos mais conectados do que nunca, mas, paradoxalmente, mais isolados. A rotina apertada, as metas inatingíveis e a lógica de que toda pausa no meio do trabalho é perda de tempo têm corroído a qualidade das relações interpessoais.

Passamos por comarcas em que, no momento da reunião do sindicato, relataram nunca ter se conhecido antes, embora já trabalhassem no mesmo fórum há mais de ano. Os prédios novos são grandes e silenciosos. Alguns, parecem mais um labirinto. Conversar com um colega se tornou algo fora do comum. Trocar uma ideia no café ou simplesmente dividir um desabafo virou uma raridade. Como criar laços de confiança quando falta tempo até para respirar?

Essa solidão gera insegurança emocional, uma sensação constante de que não se pode contar com ninguém. Muitos relatam que não se sentem seguros para falar sobre assédio, sobre problemas emocionais ou dificuldades no ambiente de trabalho. O medo de retaliação, a falta de escuta ativa por parte dos superiores e o distanciamento humano criam um ambiente frio e competitivo, onde até mesmo pedir ajuda se torna um risco.

A cultura da competitividade interna, alimentada pela lógica das metas e produtividade, transforma colegas em concorrentes. Esse ambiente desumanizado afasta os chefes das equipes, afasta os colegas entre si e impede que a coletividade – que sempre foi nossa maior força – se manifeste.

Tudo isso não ocorre no vácuo. Vivemos em uma sociedade marcada pela aceleração contínua, onde o tempo livre é engolido por novas tarefas, pela pressão do desempenho, pela exigência de sermos produtivos até mesmo no descanso. Um reflexo direto de um modelo econômico que lucra com o nosso esgotamento, que sequestra até nossos momentos de lazer com a promessa de performance e sucesso.

Por tudo isso, é urgente colocarmos a saúde — especialmente a saúde mental — no centro das nossas lutas sindicais. Salário justo, sim. Plano de carreira, também. Mas sem servidores saudáveis, emocional e fisicamente, nenhuma conquista se sustenta. Precisamos de espaços de escuta, de relações mais humanas, de ambientes que respeitem os ritmos de cada um e reconheçam que o trabalho não pode ser uma fonte permanente de sofrimento.

O SINJUSC está atento a essa realidade. E mais do que atento: está em movimento. Vamos continuar nas comarcas, ouvindo, dialogando, construindo juntos caminhos para que possamos não apenas sobreviver ao trabalho – mas viver com dignidade, com saúde e com sentido.

O SINJUSC está e sempre estará ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras que estejam enfrentando qualquer tipo de assédio ou sofrimento no ambiente de trabalho. Temos um Protocolo de Saúde ativo, com suporte e orientação, para acolher, ouvir e buscar soluções. Você não está sozinho. Fale com o Sindicato.

*Jaqueline é diretora de Estudos Socioeconômicos e Formação Sindical do SINJUSC!

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