Editorial: Saúde e condições de vida: é preciso ligar os pontos


Por Carolina Rodrigues Costa, presidenta do SINJUSC

Quando um servidor público, um sindicalista, fala em Saúde, ele precisa fazê-lo a partir de uma perspectiva ampliada e coletiva. Deve considerar a luta política e o horizonte da dignidade dos trabalhadores, compreendendo que a perspectiva do coletivo no sindicalismo não representa a simples soma de necessidades individuais. O princípio da coletividade se relaciona a uma ética de vida.

O trabalhador não é um sujeito isolado, assim como também não o são as partes de seu corpo. A condição de saúde do trabalhador não se resume a diagnósticos sobrepostos à espera de especialistas diversos. Ela reflete suas relações e os espaços que ocupa no mundo

A categoria Trabalho representa um eixo central da nossa sociedade, fala do poder e de toda a organização econômica. Mas, para além disso, também é central na subjetividade de cada um de nós, construída a partir dos valores do capitalismo. O trabalhador sofre por não ter trabalho e também quando o trabalho ocupa todos os espaços de sua vida cotidiana. Nessas condições, o que tem sobrado para o trabalhador, nestes tempos de capitalismo neoliberal, é o medo, a solidão, o sofrimento, a doença.

Isso que hoje tratamos por “saúde”, deveria, muitas vezes, ser designado como “doença”. Falar de saúde deveria estar relacionado a falar das possibilidades de uma vida melhor, mais plena, mais pulsante. Falar de saúde deve abranger planos de dignidade, justiça social e bem-viver.

O conceito de saúde, que precisa ser defendido por nós trabalhadores, servidores públicos, sindicalistas, deve que partir da compreensão de que as políticas públicas precisam estar integradas e estruturadas para cuidar do sujeito, levando em conta a família, a comunidade e o espaço de trabalho em que ele está inserido. As questões de saúde dos trabalhadores se relacionam a condições concretas de vida, que tocam não só a eles, mas também às pessoas com quem convivem. 

É isso, trabalhador: para além da ergonomia no ambiente de trabalho, o fato de seu filho estar empregado e ter acesso ao ensino superior, ou de seus pais idosos receberem aposentadoria, influencia diretamente sua saúde. Também as metas diárias que tiram seu sossego mental, que lhe causam ansiedade e sofrimento, não são definidas como política apenas dentro do seu cartório, de uma sala do Tribunal de Justiça ou mesmo no CNJ. Elas também expressam de uma ética de vida, a ética da exploração dos trabalhadores. É importante ligar os pontos.

Sendo assim, para lutar pela sua saúde, os sindicatos devem lutar pela transformação da sociedade. E precisam que você esteja junto nessa luta, que vai lhe servir como dois bálsamos. O primeiro é aumentar as chances de mudarmos a ordem posta e melhorarmos suas condições concretas de existência. O segundo é proporcionar uma vida em comunidade, para além de objetivos individuais – que mais produzem vazios dentro de nós do que satisfação. A experiência comunitária, o ideal de uma vida coletiva, o sentido de pertencimento, a luta, são dispositivos antidepressivos e mecanismos de felicidade e saúde. É o melhor de tudo: são remédios que não precisam ser comprados em farmácias.

EM TEMPO: E, para alcançarmos esse modelo de sociedade, precisamos do serviço público — que ele continue gratuito, universal e acessível a todos. É nesse caminho que fundamentamos toda a nossa luta sindical. O serviço público não existe para gerar lucro; sua missão é assegurar que a sociedade viva com dignidade, igualdade e justiça social. Por isso, a reforma administrativa ameaça a essência do que é o bem público, e nós dizemos: NÃO!

Sobre a nossa luta empenhada contra esse projeto, clique aqui e leia mais

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